Presidente do Grêmio inicia movimento pela volta do mata-mata no Brasileirão. Foto:Divulgação/Grêmio |
"O pessoal quer um negócio novo. O cenário atual é complicado demais. É briga apenas por vaguinha na Libertadores, na Sul-Americana, para não cair. Não tem nem de longe a mesma emoção do mata-mata (...) Dá muito mais emoção, audiência e equilíbrio técnico no campeonato. Hoje, um clube dispara, fica ali no seu pedacinho na ponta e acabou tudo. O mata-mata estimula o torcedor e gera mais receita.", Romildo Bozan Junior, presidente do Grêmio.
A 'inovação' a que propõe o recém-eleito
mandatário do Imortal, que já ganhou o apoio publico de outros dirigentes como
o presidente do Santos, Modesto Roma Junior, e da federação baiana, Ednaldo
Rodrigues, é um misto de falsas boas intenções. Afaga os corações
de fanáticos que se apegam a tradição de 'time de decisão', ajuda a
esconder tapete abaixo a incompetência daqueles de desconhecem o
significado da palavra planejamento e, principalmente, agrada a quem paga
pelos direitos de transmissão do campeonato.
Mascara, no entanto, a realidade.
Ora, se o problema é renda, publico e
audiência, onde foi parar a astúcia dos nossos competentes e 'inovadores'
dirigentes que ainda não acabaram com os campeonatos estaduais?
As copas do Nordeste e Verde, certames disputados
no sistema mata-mata, apontam a olho nú serem estas saídas para os insossos campeonatos
de inicio de temporada que tomam quase um semestre do calendário, mesmo tendo
níveis técnicos deploráveis, times semiamadores e campos de dar inveja até
na várzea.
E a altivez por brigar por melhorias nas verbas
recebidas quando se disputa a Libertadores, o principal certame continental que
não rende aos clubes um terço sequer do que se arrecada na Liga dos Campeões da
Europa?
Por falar em calendário, não deveria ser este o
motivo de preocupação e 'inovação' dos nobres dirigentes do futebol brasileiro?
Pense rápido: se joga a Seleção no mesmo dia de
rodada do principal produto do futebol do país, é culpa do regulamento ou de
quem o organiza? Se a média de publico cai é culpa do regulamento ou de
outros fatores como: violência nos estádios, elevação do preço de ingressos,
estacionamento, alimentação? Se dar menos audiência é por culpa do regulamento
ou do espetáculo e seus atrativos?
Um pouco dos dois, você pode se levar a pensar
se não prestar atenção nos detalhes.
Então, tomemos como exemplo o Grêmio, de seu
'inovador' mandatário. Após a mudança do regulamento, em 2003, quando
passou a vigorar os pontos corridos, as 'brigas por vaguinhas' foi o que de
melhor fez o Grêmio, que chegou a sucumbiu a série B nesse tempo. A ultima
vez que foi campeão nacional, em 1996, o modelo de disputa do Brasileirão era o
'inovador' mata-mata, o que torna o argumento de seu presidente quase consistente,
exceto por: desde que fora campeão, houve outras seis edições do campeonato no
mesmo formato, nenhuma delas vencida pelo tricolor gaúcho.
Recebendo da TV o mesmo que o Grêmio, Cruzeiro ganhou 3 títulos desde o inicio dos pontos corridos no Brasileirão. Foto: Divulgação/Cruzeiro |
Mais, naquele tempo já havia diferença de
receita paga a clubes do eixo Rio-SP em detrimento dos demais. Diferença que
permaneceu após de 2003 - e só vem aumentando, tempo em que o Cruzeiro, que
recebe da TV o mesmo montante que o Grêmio, foi campeão brasileiro por 3
vezes. Cruzeiro que não tem estádio próprio como o Imortal e já soma quase o mesmo número de sócios torcedores mesmo tendo dado inicio a
seu programa de associados, anos mais tarde que o tricolor gaúcho. Cruzeiro que teve a maior média de publico, maior
renda anual e maior índice de audiência na TV's aberta
e fechada em 2014, quando conquistou pelo segundo ano consecutivo o
Brasileirão.
Não deveria se debruçar nesses poréns - o por que seu time não seguiu os mesmos passos - o mandatário gremista?
Os pontos corridos garantem a atividade dos clubes por toda a
temporada e beneficia quem se planeja. Deveria ser por isso as reuniões e lutas
de nossos ‘inovadores’ dirigentes além de outros aspectos a criação da liga de
clubes chutando para escanteio aqueles que se beneficiam e nada fazem pelo
futebol nacional, caso das federações e CBF, a redivisão dos direitos de
televisão, e adequações propostas pelo Bom Senso FC, como o fair play
financeiro e fomento de campeonatos nos Estados - que deem vagas a ligas regionais e Copa do Brasil, por exemplo - que permitam a times pequenos não se desfazerem ao quarto mês do ano, deixando uma infinidade de atletas
sem atividade e sem ganhos.
Mata-mata? Que essa seja como uma daquelas promessas de
ano novo que se esvaem logo antes do Carnaval.
Nenhum comentário:
Postar um comentário