domingo, dezembro 14, 2014

O vôlei do Brasil precisa resgatar o vôlei no Brasil

Jogadores de Sesi e Sada/Cruzeiro protestaram contra irregularidades na CBV, apontadas pela CGU, em jogo da Superliga. Foto: Divulgação/Sesi
Nariz de palhaço. Erro forçado de saque. Um final de semana atípico no vôlei tupiniquim em que a quadra foi palco de protesto.

O motivo é um relatório da Controladoria Geral da União (CGU) que aponta irregularidades em contratos da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) que ultrapassam a casa dos R$ 30 milhões. 

De acordo com a CGU, ao menos 13 contratos que incluíam recursos federais, no período entre 2010 e 2013 foram fraudados beneficiando diretamente dirigentes, ex dirigentes e parentes de pessoas ligadas a CBV.

A auditoria realizada após denuncias feitas pelo jornalista Lúcio de Castro na ESPN Brasil, apontam que até o repasse para premiação de atletas e comissões técnicas foram desviados, enquanto constatou-se "um aumento de despesas administrativas e operacionais em percentuais muito maiores que os índices inflacionários do período".

Diante do panorama, o Banco do Brasil, principal patrocinador do vôlei no país, suspendeu o patrocínio a modalidade por tempo indeterminado.

Para voltar (?) aos trilhos a auditoria da CGU prevê, entre outras coisas, a criação de um "comitê composto por representantes da comunidade do vôlei, incluindo atletas, comissão técnica e mídia especializada" que possa auxiliar "na tomada de decisões de longo prazo e na elaboração do planejamento estratégico e dos planos anuais da entidade, bem como na avaliação da contratação de serviços e produtos" que possa dar mais transparência as ações CBV e evitar a ocorrência de novas irregularidades como as apontadas.

Em nota, a Confederação negou parte das irregularidades, justificou outros pontos e afirmou já estar adotando medidas como propostas pela Controladoria que visam a 'melhoraria do voleibol brasileiro'.

As atitudes da entidade nos últimos anos contrastam o que se diz.

Calendário, regulamentos, horários de jogos e dinheiro repassados aos clubes são alguns dos problemas existentes entre clubes e a Confederação. 

Sets com 21 pontos, decisão do campeonato em jogo único, partidas iniciadas após as 22h, como uma outra partida por se jogar em menos de vinte e quatro horas Mesmo diante da reclamação de jogadores e técnicos, a CBV sempre tomou decisões de acordo com os interesses da televisão a quem seu ex presidente nunca cansou de dizer 'é quem pagava seu salário'.

Uma verdade que não se aplica aos clubes. O dinheiro pago pelos direitos de transmissão da modalidade - cada vez mais incomum na TV aberta - são negociados pela Confederação que repassa parte do bolo aos times, mas fica com a maior parte.

O retorno com bilheteria praticamente não existe.

Para se manter, um time tem de buscar um patrocinador que possa bancar o projeto 'temporada'. O problema se dá quando estes investidores não obtêm o retorno e exposição esperada, culminando no fim dos patrocínios e, também, na extinção dos times, fazendo com que, a cada ano, a Superliga tenha um número diferente de equipes e jogadores tenham futuros incertos.

São situações como essa que expõem a diferença entre o vôlei do Brasil, campeão olímpico e mundial nas quadras e areia, e o vôlei no Brasil, mal gerido e organizado, como costuma dizer Bebeto de Freitas.

Uma alternativa viável seria a criação de uma liga independente, como se cogitou outrora. Uma entidade que possa ser gerida por um conselho formado por profissionais especializados em gestão do esporte e marketing, mas também e, obviamente, representantes de clubes e jogadores ex-jogadores.

Caberia a esta liga organizar as competições, negociar contratos para transmissões televisivas e dividir, igualmente, as cotas de transmissão para manter a competitividade dos torneios e manutenção das equipes, como faz a MLS. 

Outra função seria a de buscar parceiros e patrocinadores que possam fomentar a difusão e divulgação constante da modalidade como faz, por exemplo, o UFC com o vale-tudo, podendo assim, manter a fidelidade daqueles que já acompanham o vôlei e, ao mesmo tempo, atingindo novos públicos.

A CBV caberia, exclusivamente, a gestão das seleções da base a idade adulta.

São louváveis as vozes que se levantaram em protesto. Para resgatar o vôlei no Brasil é preciso mais. É necessário que jogadores, ex jogadores e técnicos, encabeçados por líderes como Bernardinho, Murilo, José Roberto Guimarães, Sheilla, Jacqueline, Larissa e Talita, Ricardo e Emanuel, Ana Moser, se unam para buscar melhorias para a classe e que os clubes os apoiem, deixando de lado a omissão comumente adotada perante os desmandos da CBV, visando crescimento da modalidade e de si próprios.

A poeira já foi sacudida. É hora de dar a volta por cima!

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